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Brasil: " A energia eólica é resiliente por natureza, por definição"


O Brasil conta com a participação de 83% de energias renováveis em sua matriz energética e, possui um dos maiores potencias eólicos do mundo com um fator de capacidade médio de mais de 42%. 

Entre 2012 e 2019 o Brasil subiu 8 posições no ranking de países com maior potência eólica instalada, passando do 15° para a 7° posição.  Esses dados apontam para a importância de se conhecer os fatores que permitiram o aproveitamento da energia eólica de forma tão eficiente no país. 

A Review Energy conversou, com exclusividade, com Elbia Gannoum; CEO da ABEEolica e Vice-Chair do Global Wind Energy Council (GWEC), sobre o crescimento da energia eólica no Brasil e no mundo e sobre sua visão do mercado energético pós pandemia.

O Brasil possui uma ampla indústria eólica com 17,00 GW de capacidade instalada em seus 660 parques eólicos. Na sua opinião, quais fatores contribuíram e contribuem para o sucesso da inclusão desta fonte na matriz energética brasileira?

O sucesso da energia eólica no Brasil, de ter chegado ao patamar de 17 GW, com uma perspectiva futura de crescimento, mantendo a fonte eólica como a segunda fonte da matriz energética nacional, se deve a uma palavra chave: competitividade. 

Historicamente o Brasil investiu em usinas hidrelétricas. O país começou a investir em eólica, efetivamente, em 2004 quando realizou um programa de incentivo às fontes “alternativas” de energia, na ocasião o entendimento era esse. 

Nesta época, a eólica era mais ou menos 6 vezes mais cara que a energia hidroelétrica; desta forma foi necessário desenvolver um programa pontual e especifico para incentivar uma nova forma de fazer energia, uma nova tecnologia e um novo recurso. O programa foi crucial porque nós aprendemos o que era energia eólica no Brasil e mais, foi um laboratório importantíssimo.

 Neste momento e, diferente da Europa que contava com um modelo Feed In Tariff, o Brasil instituiu um modelo Feed In Criativo o Brasil contratou energia e não potência instalada.  

Entre 2004 e 2009 aconteceram outros fatores relevantes; primeiro a tecnologia no mundo melhorou muito, o que aumentou a produtividade e fez com que os custos caíssem e, somado a isso, nós obtivemos uma excelente experiência com nossos ventos. No Brasil nós temos um fator de capacidade de 40%; comparado a Europa, as mesmas tecnologias atingem um fator de capacidade de, em média, 25-30%. 

Então em 2009 os custos da energia eólica, que partiram de 6 vezes mais que a hidroelétrica, já estavam na ordem de 2 vezes o preço da hidroelétrica.  Nós percebemos que tínhamos ganhado em tecnologia e que possuíamos um vento fantástico, juntas essas duas variáveis geraram uma terceira: a competitividade.

Entre 2004 e 2009 o Brasil esgotou os melhores potenciais hidroelétricos; nós necessitávamos de outras fontes de geração. Então olhando para a redução de custos da eólica e, sabendo que tecnicamente era boa, nós decidimos fazer leilões; o primeiro leilão foi um sucesso e a partir daí o Brasil passou a fazer leilões competitivos e, a cada leilão que fazia os custos baixavam e a indústria no Brasil explodiu.

Nós vendemos em leilões, em média, 2 GW/ano e esse é um montante importante dado que significa 30 a 40% do total de energia que o Brasil contrata por ano e, a cada leilão nós temos preços mais baixos; de modo que em 2011 quando eu cheguei na ABEEolica, a eólica já era a segunda fonte de energia mais barata no Brasil. 

Em 2012 o Brasil era a décima quinta economia do mundo em capacidade instalada, nós tínhamos mais ou menos 2 GW; agora, em 2020, nós possuímos 17 GW e somos a sétima economia em capacidade instalada do mundo. Ainda, temos a energia eólica mais barata do mundo e, a energia eólica é a energia mais barata do país hoje. 

Em 2018 nós começamos a vender também no mercado livre e, nossa média saltou de 2GW/ano para 4 GW/ ano. Vendemos 4 GW em 2018 e 4 GW em 2019, sendo que, destes aproximadamente 1.5 GW foram para o mercado regulado e 2,5 GW para mercado livre.

Hoje nós temos um mercado em ascensão, dada a competitividade, dada a nossa história de aprendizado, dada a inteligência de trazer os investidores para o Brasil em um momento em que o mercado tinha condições de fazer. Entre 2013 a 2016 nós reforçamos a regra de conteúdo nacional; o BNDS, por exemplo, concede financiamentos desde que o projeto seja em torno de 80% nacionalizado; trouxemos os grandes fabricantes, construímos uma cadeia produtiva e a indústria entrou em um grau de maturidade. 

Com este tamanho o Brasil é um grande mercado e pode ser um hub na América Latina e Caribe. O potencial eólico brasileiro está estimado em 800 GW, sendo que, a capacidade instalada atualmente no Brasil, somando todas as fontes, é de 170 GW; significa que só em energia eólica temos 4 vezes a necessidade energética do Brasil neste momento. 

Se você me pergunta se o Brasil tem recursos eólicos suficientes para o ano de 2050 ou 2080, eu digo que o nosso recurso é infinito porque a tecnologia vai evoluir muito e, até aonde se sabe, nós possuímos o melhor vento do mundo. É um vento rápido, sem rajadas e com uma característica unidirecional; o que resulta em um fator de capacidade de mais de 40% enquanto a média mundial é menor que 30; ainda, à medida em que a tecnologia evolui nós ganhamos em fator de capacidade e avançamos para regiões incríveis, como é o caso do Piauí e do Maranhão, por exemplo, aonde o nosso fator de capacidade está chegando a até 60%, o dobro da média mundial. 

Essa é, de certa forma, a história da eólica até aqui. E aí você me pergunta: e o futuro? Com base em tudo o que eu te contei o nosso futuro é brilhante porque o Brasil é um país muito rico em recursos renováveis e a palavra competitividade é a mais relevante em nosso país. 

O Brasil não está preocupado se os recursos energéticos serão suficientes para alcançar as metas da economia de baixo carbono, a preocupação maior é como lidar com a abundância de recursos porque é necessário fazer decisões inteligentes e, neste caso, o fator preço é fundamental. Está aí nosso principal objetivo:  nos mantermos cada vez mais competitivos. 

O Brasil está em 7º lugar no Ranking mundial de capacidade instalada de energia eólica e, estima-se que até 2024 essa fonte energética atinja 27 GW de potência instalada no país. Quais incentivos, sejam regulatórios ou econômicos, serão importantes para que essa previsão possa se concretizar?

Incentivo é uma palavra muito importante porque nós sabemos que a maioria dos países criaram programas de incentivo para impulsionar as energias renováveis, já que essas fontes se mostram, ou até recentemente se mostravam, muito mais caras do que o combustível fóssil.  

O Brasil tem uma característica diferente; primeiro foi o Brasil quem ensinou o resto do mundo que não é necessário contratar renováveis com Feed In Tariff; a tecnologia no setor elétrico chegou a tal nível de desenvolvimento que os subsídios já não são tão necessários, os próprios leilões competitivos são a melhor forma de contratar. 

O aparato legal/ regulatório que o Brasil construiu ao longo desses anos, os mecanismos de financiamento e a política de conteúdo permitiram criar uma indústria muito forte e muito estruturada; nós não temos grandes desafios regulatórios. 

Então como a fonte eólica e as renováveis poderiam crescer mais no Brasil? A economia brasileira necessita crescer, é isso que nós precisamos. Como um exemplo, se o governo brasileiro realizar hoje um leilão para contratar 2 GW, ele receberá no mínimo 100 GW de oferta; há um excesso de recurso e excesso de oferta, o que faz com que a competição seja grande e atraia novas tecnologias.

O próprio mercado dá o sinal para que a tecnologia venha ao país, o que nós precisamos é que a economia cresça para escoar esses novos investimentos. 

A senhora é Vice Chair da Global Wind Energy Council (GEWC); quais discussões estão em pauta, nesse momento, para promover o crescimento do uso da energia eólica no mundo?

A principal discussão em pauta, para a promoção da eólica no mundo, estava muito associada à transição energética, mas nós fomos atropelados pela pandemia. 

O que acontece é que durante a pandemia nós percebemos, e quando eu digo nós eu me refiro ao mundo todo e, agencia interacional de energia trouxe muito forte, que uma vez que a energia é uma infraestrutura relevante para a geração de emprego e renda, o setor de energia não vai esperar uma recuperação econômica, ele viabilizará essa recuperação, ou seja, a recuperação econômica verde. 

Quando nós olhamos para o período pós pandemia e a retomada econômica, a principal pauta do GEWC é manter a energia eólica como um dos principais componentes da economia de baixo carbono na perspectiva de 2030 e 2050. 

Em todo o mundo estamos passando por um período conturbado graças a pandemia do Covid-19 . Como a Sra.  visualiza o  mercado das energias renováveis e, principalmente a eólica no Brasil, no período pós pandemia? 

Eu acredito na retomada verde como um fator determinante da retomada econômica. Essa retomada irá atender muitos objetivos; primeiro a geração de emprego e de renda, a atração de investimentos e também o processo de transição energética que agora se tornou mais acelerado. 

Nós aprendemos algumas muito importantes, hoje em reunião com o GEWC nós discutíamos como a energia eólica é resiliente à crise.  Embora se tenha sentido alguns impactos, durante o ano de 2020, há uma retomada muito rápida dos investimentos em fonte eólica ao redor do mundo.

Além disso, em infraestrutura as decisões são tomadas em advance. Nós vamos perceber os efeitos de 2020 em 2023, mas eu já posso te assegurar que não houve uma redução drástica nas contratações; haverá sim uma redução razoável, mas ela se recuperará rapidamente em 2021.  A energia eólica é resiliente por natureza, por definição.

 

 

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